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sábado, 14 de julho de 2012

DEPOIMENTO ... Alguma coisa do que foi e um pouco do que é

A foto mostra Sr Francisco em
aula de locomoção, explorando 
o espaço ao entorno do piso tátil.

Areial é uma pequena cidade no interior da Paraiba, foi ali que passei toda a minha infância e adolescência ao lado de minha família. Naquela época quando ainda criança, algo diferente a minha volta comecei a perceber, escutar coisas assim como:

“ ele não vê”, “ele não enxerga”, “ ele é meio cego”

Eu não sabia o que fazer, dia e noite nessa situação, então o tempo foi passando e eu fui crescendo e realmente fui descobrindo que eu era mesmo como diziam e passei a entender melhoras coisas; então comecei a sentir vergonha, e procurava fazer tudo para que ninguém percebesse que eu tinha esta dificuldade. Porem eu era um garoto feliz, embora não enxergasse bem á noite, mas durante o dia eu via tudo, para mim estava ótimo, eu trabalhava, jogava futebol, passeava com meus colegas, estudava e ainda ajudava minha mãe e meus irmãos, pois a esta altura não tinha mais pai vivo.

Quando jovem, ia a festas como todos de minha idade, mas procurava sair dos lugares sempre antes de escurecer, sempre arrumava um motivo para que as pessoas não pudessem observar minha dificuldade.

A foto mostra Seu Francisco
lendo as placas de informação 
em Braille na rodoviária.

Na minha vida as coisas foram acontecendo naturalmente, aos 10 anos deixei minha terra e comecei a trabalhar em diferentes cidades deste país, me casei, tive filhos; e foi aqui em São Carlos que em 1991 passei por uma consulta em uma das clinicas oftalmológicas, foi onde pela primeira vez ouvi o que jamais queria ouvir, pois a partir daquele momento fiquei ciente de que meu problema não tinha cura, a partir de então fiquei sabendo que eu era portador de Retinose Pigmentar.

Faz aproximadamente 10 anos que eu perdi a visão totalmente. Portanto a partir de março de 2010 que as coisas realmente começaram acontecer para mim uma nova história um recomeço, alguém com boa vontade que me estimulou e incentivou, aprendi o Braille, voltei a estudar, tive a oportunidade de fazer orientação e mobilidade. Hoje posso dizer que tenho liberdade mesmo com todas as minhas limitações. Acredito que um dia serei um “Doutor”, como costumo brincar com minha família.

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