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terça-feira, 12 de julho de 2011

ECOLOCALIZAÇÃO

Ecolocalização ou Biosonar é um sentido, uma sofisticada capacidade biológica de detectar a posição e/ou distância de objetos (obstáculos no ambiente) ou animais através de emissão de ondas ultra-sônicas, no ar ou na água, e análise ou cronometragem do tempo gasto para essas ondas serem emitidas, refletirem no alvo e voltarem à fonte sobre a forma de eco (ondas refletidas). Para diversos mamíferos, morcegos, golfinhos e baleias, essa capacidade é de importância crucial em condições onde a visão é insuficiente, de noite no caso dos morcegos ou em águas escuras ou turvas para os golfinhos, seja para locomoção ou para captura de presas. Alguns pássaros também utilizam a ecolocalização para voarem em cavernas. Baseado nessa capacidade natural os seres humanos desenvolveram a “ecolocalização artificial” com o advento do radar- sonar e aparelhos de ultra-sonografia.

Os morcegos enxergam normalmente, apenas quando estão dentro da caverna, ou em locais sem claridade utilizam a ecolocalização (para caçarem insetos e encontrarem seus filhotes dentro das grutas). Navegam de modo semelhante. Usando apenas ecos, eles podem voar entre folhagem densa sem incidentes, pegando os insetos nas folhas com precisão enquanto passam. Apesar dos seres humanos não ouvirem tão bem, com pouco esforço eles podem conseguir um progresso surpreendente com uma técnica semelhante. Segundo o dicionário Michaelis do Milênio Ecolocalização significa: “Processo usado por um animal (um morcego, p ex), para orientar-se e evitar obstáculos, especialmente na escuridão, por meio da emissão de sons de alta freqüência, refletidos por superfícies do ambiente, e que indicam a distância relativa e a direção de tais superfícies.”

Nas últimas décadas, várias pessoas cegas desenvolveram um método como de morcego para determinar o ambiente ao seu redor, usando estalos de língua. Após o recente sucesso em Berlim, a técnica poderá se tornar mais disseminada na Alemanha. Alguns até mesmo usam o “flash sonar” para andar de bicicleta ou caminhar nas montanhas.

Pessoas vendadas, sem qualquer problema visual, podem aprender a detectar objetos ao seu redor após apenas um breve período de tempo. De fato, sem contar com qualquer instrução, algumas pessoas cegas simplesmente aprenderam sozinhas a técnica. Dave Janischak, um estudante colegial de 15 anos da cidade alemã de Marburg, no Oeste do país, descobriu um tipo de flash sonar quando tinha quatro anos. Na época, ele frequentava uma creche com um menino deficiente mental que passava o dia todo estalando sua língua. Naquilo que começou como provocação infantil, Janischak passou a imitar os estalos do menino. Mas ele descobriu rapidamente que fazer isso o ajudava a determinar seus arredores. “Eu de repente sabia onde estavam as portas”, ele diz, “e se estavam abertas ou fechadas”. Para pessoas que podem ver, o senso de percepção é dominado pela visão. De fato, ao longo da evolução, nossa audição passou a assumir um papel subordinado, se concentrando em coisas que fazem ruídos próprios –como uma onça faminta se arrastando na mata ou um convidado chamando do outro lado da sala em meio a uma festa barulhenta. Mas quando se trata de uma orientação baseada em som, os ecos podem ser enganadores. “Por esse motivo, os cérebros das pessoas que podem ver tendem a suprimir o eco espacial”, diz Lutz Wiegrebe, um neurobiólogo de Munique. “Ele é automaticamente cancelado como mero ruído de fundo.” Mas ele acrescenta que a informação não é perdida. “Você pode aprender rapidamente como fazer uso dele”, ele diz. “Para pessoas cegas, isso certamente faria sentido.”

De fato, a maioria dos cegos sabe intuitivamente um pouco sobre como a ecolocalização funciona. Alguns batem na calçada com a bengala para localizar uma entrada; alguns estalam os dedos quando entram no banheiro da casa de outra pessoa, para localizar a pia, que retorna um eco vazio. Mas bater com a bengala em várias superfícies retorna um som diferente todas as vezes. E o estalar de dedos a várias distâncias do ouvido retorna diferentes sons processados pelo cérebro a cada vez.

Apenas o estalar de língua permite uma impressão espacial precisa. Boca e ouvidos praticamente formam uma única unidade e, com a prática, sua colaboração se torna automática. Ainda assim, muitos cegos consideram o estalar desagradável no início. Reinhard Eiler, que ensina estudantes cegos em Marburg a experimentar.

Daniel Kish, californianos utiliza um sentido semelhante ao sonar de morcegos e golfinhos para reconhecer o ambiente. foi o primeiro cego acreditado para guiar outros cegos nos Estados Unidos. Ainda bebê, um tumor na retina extirpou seus olhos. Com 2 anos, começou a estalar a língua. Com 10, adquiriu consciência da técnica que desenvolvera involuntariamente para conhecer o mundo. O barulho que sua boca produzia reverberava nas coisas e munia seu cérebro de dados valiosos: localização, dimensão e profundidade dos objetos, informação suficiente para alcançar uma grande independência. Pesquisadores canadenses suspeitavam que cérebros de pessoas que dominam a ecolocalização não processariam informações auditivas de forma convencional. Com o auxílio de um sofisticado aparato de ressonância magnética funcional, mergulharam nos neurônios de Kish e ficaram surpresos com o que encontraram: os ecos são tratados como imagens na cabeça do americano.

Brian Bushway, de 28 anos, também participou do experimento canadense. Uma atrofia do nervo óptico roubou sua visão há 14 anos. Desde então, aprendeu a utilizar a ecolocalização. Os cientistas queriam identificar possíveis diferenças neurológicas entre pessoas que deixaram de enxergar cedo ou em plena adolescência. Na prática, ambos apresentaram uma habilidade comparável, com ligeira vantagem para Kish.

Ivan Freitas, professor de educação física em São Bernardo do Campo, perdeu a visão aos 6 anos, vítima de um glaucoma. Hoje, tem 39. Como Kish, começou a estalar a língua cedo. Perdeu a conta das vezes que lhe disseram: “Para de fazer esse barulho, menino! Que irritante!” Ficava quieto por algum tempo e, depois, voltava aos estalos. “Era mais forte do que eu. Nem percebia que fazia aquilo para me localizar”, comenta.

A maioria dos brasileiros que utilizam a ecolocalização é como Freitas. Diferentemente dos americanos, não criaram teorias elaboradas para aprimorar a técnica. Surgiu com a naturalidade de uma descoberta involuntária.

Kish fundou a World Access for the Blind. O lema do grupo – “our vision is sound” – pode ser traduzido como “nossa visão é o som” ou “nossa visão é acurada”, ambiguidade que descreve bem o objetivo da iniciativa: ajudar deficientes visuais a utilizar a ecolocalização para aumentar sua autonomia. “Nossa principal bandeira: a técnica pode ser ensinada. É como aprender piano. Nem todo mundo conseguirá tocar no Carnegie Hall, mas muita gente pode aprender a tocar”, garante Kish. A organização percorre o mundo, dando palestras e cursos. Ao Estado, Kish disse que já recebeu convites para vir ao Brasil, “mas ainda não deu certo”.

Laina começou a usar sua técnica nas corridas de pega-pega e logo passou para a bicicleta. Costuma seguir um dos irmãos ou amigos, enquanto pedala. Quando não tem “um guia”, fala sem parar, como forma de evitar os obstáculos. “Tenho certeza que essa minha experiência na infância me dá autonomia hoje para me locomover com mais segurança”, afirma. Ex-aluno do Instituto Benjamin Constant, no Rio, Laina acredita que todos os cegos utilizam uma forma rudimentar de ecolocalização, mesmo sem perceber. “Basta colocar uma proteção de borracha na ponta da bengala de muitos cegos para deixá-los loucos”, afirma. “Eles usam aquele barulhinho da ponta rígida batendo no chão para identificar obstáculos.” Segundo Laina, tricampeão paraolímpico de futebol de cinco (para cegos), esportes podem aprimorar a percepção sensorial.

Ela afirma que a informação sonora permite perceber dados espaciais de grandes dimensões. “Para a maioria das pessoas, o som do trovão é igual em qualquer cidade. Mas para um cego é diferente. Ele percebe claramente quando está em uma cidade pequena ou em uma grande cidade. Os prédios abafam o som”, explica.

Mel Goodale, principal responsável pela pesquisa canadense, afirma que a ecolocalização em humanos permitirá uma melhor compreensão do fenômeno em morcegos e outros animais, pois pessoas podem verbalizar suas experiências. Kish, por exemplo, compara os sons que produz ao flash de uma câmera fotográfica: iluminam o mundo e permitem a fixação de uma imagem no cérebro.

Juan Antonio Martínez, da Universidade de Alcalá de Henares, em Madri, afirma que pessoas que veem também podem aprender a ecolocalização. “Para deficientes visuais em particular e para todos nós em geral, a técnica pode significar uma nova forma de perceber o mundo”, afirma. Ele já desenvolveu pesquisas na área, procurando descobrir, por exemplo, quais sons produzidos pela língua são mais convenientes. “Treinar duas horas por dia durante duas semanas é o suficiente para distinguir se você tem um objeto na sua frente. Mais duas semanas e você consegue diferenciar árvores de um muro.”



.Fonte: http://noticias.uol.com.br/midiaglobal/derspiegel/2011/06/27/ver-com-som-faz-crescente-sucesso.jhtm



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