O teste do reflexo vermelho, mais conhecido como teste do olhinho, já faz parte da rotina obrigatória do exame de recém-nascidos em vários estados brasileiros. Regulamentado em forma de lei em alguns lugares, esse exame detecta diversos problemas oculares e previne uma série de seqüelas. Catarata congênita, glaucoma congênito avançado, infecções intra-oculares, malformações, tumores entre outros problemas de saúde ocular são possíveis de diagnosticar nesse exame, que deve ser feito antes de a criança sair da maternidade. No Brasil, o teste já é obrigatório no Estado de São Paulo, Paraná e nas cidades do Rio de Janeiro e Porto Alegre. "Isso é um passo importante para a saúde pública e, sem dúvida, pode beneficiar significativamente a saúde ocular de muitas crianças", diz Harley Bicas, presidente do Conselho Brasileiro de Oftalmologia.
Muitos pediatras, porém, ainda não examinam os olhos dos recém-nascidos e o resultado disso é assustador: mais de 50% das crianças só têm o problema de visão descoberto quando estão cegas ou quase cegas para o resto da vida.
Para os bebês prematuros, explica o Dr. Derci Maziero, oftalmologista responsável técnico pelo Programa Vida Iluminada, o Teste do Olhinho é obrigatório porque 30% dos bebês que nascem com menos de 40 semanas ainda não têm os vasos sanguíneos da retina formados. A retina é onde se compõe a visão. Quando a retina não está formada, ela pode dar origem à retinopatia da prematuridade, principal causa da cegueira infantil na América Latina.
Este teste preventivo é de baixíssimo custo. A Amusp, por exemplo, realizou doações de vários Oftalmoscópios (equipamento usado para fazer o Teste do Olhinho) para maternidades e hospitais, pelos quais pagou R$ 340,00 cada um.
Esse é o custo (corrigido à época da compra) a ser absorvido pelas maternidades e pelos estabelecimentos hospitalares, já que o exame pode ser feito pelo pediatra que recebe a criança na sala de parto, bastando para isso um treinamento que pode ser realizado pela Secretaria Estadual de Saúde, com apoio de entidades como a Sociedade Brasileira de Oftalmologia Pediátrica, que vem se dedicando à divulgação do assunto.
A Sociedade Brasileira de Oftalmologia Pediátrica estima que, de cada cem crianças nascidas, uma tem catarata, que se for cuidada a tempo pode evitar a cegueira. Atualmente, o Ministério da Saúde dispõe apenas do exame de Fundo de Olho, que também serve para detectar a catarata congênita.
Esse exame não é obrigatório, mas se pais o pedirem logo depois do nascimento, pode ser feito pelo Sistema Único de Saúde (SUS). Mas ainda é muito pouco. Durante o Teste do Olhinho, realizado pelo pediatra e sem uso de colírios prévios, é utilizada uma fonte de luz para se observar o reflexo que vem da retina.
O reflexo vermelho normal (em tons de vermelho, laranja ou amarelo, dependendo da incidência de luz e da pigmentação da retina) significa que as principais estruturas internas do olho (córnea, câmara anterior, íris, pupila, cristalino e humor vítreo) estão transparentes, permitindo que a retina seja atingida de forma normal.
Já quando está alterado, geralmente não se observa o reflexo ou a qualidade dele é ruim. O Teste do Olhinho também pode ser feito em ambas as pupilas simultaneamente e a comparação dos reflexos pode fornecer informações sobre outros problemas oculares.
A grande importância do exame é a detecção precoce de patologias que podem ser tratadas antes do seu agravamento, como é o caso de tumores, catarata congênita e traumas de parto. Segundo dados estatísticos, essas alterações atingem cerca de 3% dos recém-nascidos em todo Mundo. Caso não sejam diagnosticados a tempo, estes problemas podem levar à perda irreversível da visão.
Catarata na Infância
A catarata é uma opacificação do cristalino, lente natural transparente que possuímos dentro do olho com a função de focalizar os objetos. Apesar de freqüentemente acometer idosos, segundo relatórios da OMS, a catarata é uma das principais causas de cegueira infantil tratável e passível de prevenção.
A catarata leva a uma baixa visual do olho acometido que geralmente só pode ser melhorada com realização de cirurgia. Quando acomete crianças assume maior gravidade pois, se não tratada rapidamente, a baixa visual pode se tornar irreversível pelo desenvolvimento de ambliopia, que é uma falha no desenvolvimento da capacidade de enxergar (ver material informativo próprio sobre ambliopia).
Está dividida em dois grupos: catarata congênita (infantil), presente no nascimento ou que aparece imediatamente após; e catarata adquirida, que ocorre mais tarde, e está normalmente relacionada a alguma causa específica como traumas ou doenças sistêmicas. Ambos os tipos podem ser unilaterais ou bilaterais, parciais ou completas (totais).
Muitas cataratas congênitas são de causa desconhecida; algumas são geneticamente herdadas (principalmente autossômicas dominantes); outras são secundárias às doenças infecciosas intra-uterinas (rubéola, toxoplasmose, citomegalovírus e sífiles) ou metabólicas, ou ainda associadas à variadas síndromes. Uma pesquisa da causa é adequada, embora, em muitos casos, nenhuma possa ser identificada. As cataratas adquiridas surgem muito comumente do trauma, contuso ou penetrante. Outras causas incluem a uveíte (inflamação intra-ocular), infecções oculares adquiridas, diabetes e drogas (principalmente corticosteróides tópicos ou sistêmicos).
O principal sinal decorrente da catarata congênita é a leucocoria (reflexo pupilar branco). Outros sinais são: estrabismo, nistagmo (situação em que o olho apresenta movimentos não coordenados em diversas direções) e microftalmia (olho de tamanho menor que o normal).
O tratamento deve ser o mais precoce possível e depende do tipo da catarata, sua localização, intensidade, grau de comprometimento visual, idade da criança e presença de outras alterações oculares associadas.
Algumas vezes o tratamento clínico (midriáticos, óculos, oclusão) pode ser indicado em cataratas parciais, mas o tratamento é basicamente cirúrgico. A retirada da catarata pode ser realizada por várias técnicas (facectomia extracapsular, lensectomia via pars plana, facoemulsificação), com implante ou não de lente intra-ocular. A técnica utilizada depende das características da catarata e de diversos fatores como a idade do paciente, presença da catarata em um ou ambos os olhos, mal formações associadas e até pela preferência do cirurgião.
O acompanhamento pós-operatório é fundamental para o desenvolvimento visual pois podem surgir diversas complicações que devem ser tratadas prontamente, inclusive com novas intervenções cirúrgicas. As principais complicações são inflamações intra-oculares, glaucoma e opacidades secundárias no eixo visual.
Uso de óculos, lentes de contato e oclusores além da correta estimulação são também fundamentais para o desenvolvimento visual da criança. Sem estas medidas e total comprometimento dos pais, mesmo uma cirurgia tecnicamente perfeita pode levar a uma criança com visão muito baixa no olho operado.
IMPORTANTE:
• A principal forma de se diagnosticar a catarata infantil em tempo hábil para um tratamento adequado é
é o teste do reflexo vermelho (“TESTE DO OLHINHO”) nas primeiras 24 horas de vida, ou seja, antes da alta da maternidade (deverá ser repetido nas consultas de rotina do bebê no primeiro ano de vida). O exame deve serrealizado pelo pediatra/ neonatologista, em sala escura, utilizando-se um oftalmoscópio direto a uma distância de 20 cm a um metro do olho da criança. Um reflexo vermelho semelhante ao observado em fotografias com flash é observado em olhos sem alteração de transparência(cristalino ou outras estruturas intra-oculares.
A ausência do reflexo indica opacidade e o paciente deve ser encaminhado com urgência para investigação detalhada com oftalmologista.
• Os melhores resultados de cirurgias para cataratas congênitas são observados quanto são realizadas nas primeiras 12 semanas de vida.
• Crianças em uso de corticosteróides, principalmente por tempo prolongado, devem ser avaliadas por oftalmologistas para investigação de cataratas e glaucomas que podem se desenvolver.
• Prevenção das doenças infecciosas congênitas, principalmente rubéola e toxoplasmose, podem diminuir significativamente o número de crianças acometidas pela catarata infantil.
Catarata congênita: cuidados pós-cirúrgicos
Após a notícia de que o filho precisa ser operado, as perguntas mais freqüentes feitas pelos pais no consultório são: Quanto tempo vai durar a cirurgia? Ele terá de ficar internado quantos dias? Quais os cuidados depois da cirurgia?
O esclarecimento de todas essas questões é fundamental para que os pais tenham a segurança de que o melhor está sendo feito por seu filho e, conseqüentemente, passem essa segurança à criança.
Tempo de cirurgia
A cirurgia de catarata em si, dura entre 20 e 30 minutos. Mas temos de levar em conta outros fatores que envolvem o procedimento. Só de preparação, contando os preparativos para anestesia, a anestesia, a arrumação do material cirúrgico e outros até o cirurgião iniciar a cirurgia leva, em média, uma hora. Após o término da cirurgia, o paciente passa pelo processo do acordar da anestesia, que leva, em média, 20 minutos.
Tempo de internação
Normalmente o paciente vai para casa no mesmo dia da cirurgia. Porém existe o tempo de recuperação e observação pós-anestésica, que dura em torno de duas horas, mas isso depende de cada caso.
Após a alta hospitalar, é necessário agendar o retorno para o dia seguinte para a revisão do pós-operatório imediato. Nesse dia observa-se o comportamento da criança e pergunta-se como foi o dia anterior (alimentação, humor e sono). Examina-se a criança e se não foi calculado o grau no pré-operatório, é possível calcular nesse momento. Também são reafirmadas todas as orientações quanto aos colírios e cuidados.
Cuidados pós-cirúrgicos
- Aplicar os colírios conforme os horários. Pingar os colírios separadamente com intervalo de 5 minutos entre um e outro.
- Colocar o protetor de acrílico durante o sono ou no primeiro dia se a criança for muito agitada e/ou tiver entre 1 e 3 anos de idade. Isso evita bater no olho recém operado.
- Em crianças com idade superior a 6 meses, a dieta deve ser leve e de fácil digestão no primeiro dia. Deve-se evitar alimentação que possa provocar vômitos ou mal-estar nas primeiras horas.
- Bebês que ainda são amamentados podem seguir a freqüência das mamadas, conforme fazia antes da cirurgia.
Reavaliações com o oftalmopediatra
- No primeiro dia pós-operatório deve-se retirar o curativo para iniciar os colírios de tratamento e o exame do olho.
- Na primeira semana deve-se observar a correção pós-operatória (refração), checar visita ao Setor Lentes de Contato (LC), a adaptação, ou não, da LC ou dos óculos, marcar o primeiro controle OP (Teller) e motilidade para avaliar a resposta visual após a correção. Nos casos de indicação cirúrgica bilateral, deve-se checar a data da cirurgia do outro olho.
- Dependendo de cada caso, todos os procedimentos acima devem se repetir de três em três meses.
- De seis em seis meses deve ser avaliada a pressão intra-ocular no hospital, sob anestesia geral. Os intervalos desses retornos podem variar conforme a resposta de cada caso.
- Marcar o quanto antes o início da Estimulação Visual Precoce.
Estimulação Visual Precoce
A Estimulação Visual é iniciada no pós-operatório imediato e se prolonga até a idade escolar ou além.
O oftalmopediatra orienta quanto à necessidade do acompanhamento do terapeuta especializado em Baixa Visão, para dar início a este tratamento. O oftalmopediatra também acompanhará os resultados desse tratamento de três em três meses e realizará as trocas de grau dos óculos ou lentes, conforme os resultados.
Os retornos e avaliações dentro dos prazos solicitados garantem a melhor recuperação visual possível, dentro dos limites de cada caso.
O que é necessário para realizar este tratamento
- Estar com a correção conforme o exame de refração pós-cirúrgica (lentes ou óculos).
- Ter realizado o OP (Teller), Motilidade e Avaliação da Função Visual.
- Se a catarata for monocular (só num dos olhos) o tampão pode ser iniciado imediatamente após a adaptação da lente de contato ou da cirurgia com implante. O terapeuta é crucial nesta adaptação, porque a criança não colabora com o “absurdo” (no entender dela) de fechar o olho bom com o tampão. O terapeuta inicia este processo evitando os traumas.
- Se a criança tem catarata bilateral o tampão é prescrito só após cuidadoso exame da motilidade e da acuidade visual pelo método de Teller . Isso porque, muitas vezes, a baixa visual é semelhante não se tratando de ambliopia, e a estimulação visual faz o papel da reabilitação visual. Pode ser diferente quando o tempo de espera entre a cirurgia do primeiro olho e o segundo é muito grande. Nesse caso é provável que o segundo olho estará amblíope em comparação com o primeiro operado. Mesmo assim, é importante conhecer a acuidade visual, desde que se tenha este recurso em mãos.
- Agenda livre de, no mínimo, uma vez por semana para fazer a estimulação visual. O tempo de terapia é de 40 minutos por sessão. No início seria interessante duas sessões por semana. Mas o tempo correto é avaliado após o exame de Função Visual.
- Ter conhecimento da possível causa da catarata. Pode-se iniciar a estimulação sem saber a causa da catarata, mas esse conhecimento ajuda a ter um prognóstico quanto à melhora possível com a terapia.
- Ter o resultado do mapeamento de retina.
Medicação após a cirurgia de catarata congênita e/ou infantil
- Colírio antibiótico, que deverá ser pingado na freqüência prescrita pelo oftalmologista. É Importante manter o horário para garantir um limiar de ação estável. Normalmente usa-se por 8 ou 10 dias.
- Antiinflamatórios: a escolha e o tempo de tratamento vão depender da causa.
- Dilatador da pupila: serve para evitar sinéquias (processo de reação inflamatória) que podem grudar a íris com os restos de cápsula e fechar a pupila.
Estes são os colírios básicos. O conhecimento da causa da catarata pode mudar a terapia pré e pós-cirúrgica. No nosso serviço costumamos dar medicação analgésica via oral por cinco dias.
Cuidados com o glaucoma pós-catarata infantil
A cada três ou seis meses é solicitado um exame, sob sedação, para medir a pressão intra-ocular, que é o melhor método para detectar um possível glaucoma. Além desse exame deve-se observar se há diminuição brusca do grau (o que aumenta a suspeita de glaucoma), a escavação do nervo óptico e o ultra-som.
Pode ocorrer descolamento da retina no pós-operatório?
Existe a possibilidade, mas é raro. Nos nossos serviços, em mais de 20 anos tivemos apenas um caso, de um paciente com Síndrome de Down. O risco existe, por isso todos os pacientes são examinados com mapeamento de retina sempre que examinam para refração, aproveitando a mesma dilatação pupilar.
FONTES
Dr. Cassiano Rodrigues Isaac
http://www.testedoolhinho.org.br/noticias.asp?id=90
http://www.copacabanarunners.net/teste-olhinho.html