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terça-feira, 23 de novembro de 2010

CÃES GUIA PARA CEGOS

Todos os cães podem servir como cães-guia?

Não. Os cães-guia têm de ter características muito próprias e específicas. Na verdade, mesmo entre as raças que estão mais indicadas para tal, somente um de cada quatro podem servir para desempenhar a contento as tarefas necessárias. Um cão-guia tem de ser especialmente calmo, dócil, obediente e suficientemente inteligente e maduro para tomar decisões quando necessário. Não pode ladrar e muito menos morder ou tentar morder às pessoas que circunstancialmente o possam rodear. Deve ter um andar fluente e certo. Não pode ter, por exemplo, displasias da anca, doença tão comum entre os cães de médio e grande porte.

Que raças podem ser usadas?

Presentemente a raça mais utilizada é o retriever do Labrador. Contudo são igualmente usadas outras. Golden retrievers, pastores alemães e boxers. Tal procedimento fica a dever-se ao facto de se ter de atender a vários condicionalismos como por exemplo, o clima onde vão atuar, a morfologia do utilizador e a sociedade onde este está inserido. Por exemplo, se vamos atribuir um cão-guia a um utilizador que seja muito alto, temos de pensar igualmente na altura do cão. Se fosse atribuído um cão demasiado baixo, resultaria evidentemente num desconforto para o utilizador, uma vez que este tem de conservar uma posição anatomica apropriada, mas tal não pode resultar em esforço, o que seria absolutamente desnecessário. Tem de se atender além disso a outros fatores. Se o utilizador freqüêntar transportes públicos, se o cão for demasiado grande, não se poderá colocar por baixo dos bancos, o que pode resultar em incomodo para os outros concidadãos. A raça mais utilizada é a retriever do Labrador.

Conhecendo um pouco de sua história

Primitivamente chamava-se aos Labradores de “pequenos Terra-nova” e ambas as raças apresentam a particularidade física de possuírem os dedos ligados por uma membrana. O Terra-nova recebeu a influência dos mastins, o que lhe proporcionou um maior porte, esqueleto forte e um pêlo mais comprido. Esses mastins tiveram seguramente origem nas montanhas dos Pirenéus, para aí levados pelos marinheiros bascos que se dedicavam à caça da baleia. Ao olharmos para um labrador podemos apreciar por um lado o seu corpo roliço, forte, com um bom tecido adiposo sob a pele que serve de câmara protetora contra o frio, e por outro um manto de pelagem apertada, espessa e impermeável. O seu tamanho, não muito grande (originariamente estes cães eram mais pequenos do que os atuais, produtos da criação britânica), o seu peito largo, que lhes permitia uma boa respiração para nadar nas águas geladas do Atlântico Norte, os seus pés com membrana, e o seu manto impermeável, faziam do Labrador o cão perfeito para acompanhar as grandes barcaças de pesca e atirar-se à água, se fosse necessário, para recuperar uma rede ou um objeto que tivesse caído.

O labrador é hoje uma das raças mais populares nos Estados Unidos, tanto como animal de companhia como na vertente de cão de caça, contando com centenas de associações por todo o país, que velam pelos seus cuidados e promoção. Os cães americanos não são oriundos da ilha da Terra Nova, pois são filhos de cães britânicos levados para o Novo Mundo no princípio do século XX. A senhora Howe ofereceu vários Labradores a reputados “sportman” de Long Island (Nova Iorque) antes da Primeira Grande Guerra Mundial. A primeira inscrição da raça nos registros do American Kennel Club teve lugar em 1917 e tratava-se de uma fêmea, oriunda da Escócia, chamada Brocklehirst Floss. A inscrição nos registros do American Kennel Club não pressupõe o reconhecimento imediato de uma raça, mas sim o início de um processo que se conclui com o reconhecimento oficial ou com o afastamento. A raça foi oficialmente reconhecida em 1932. A sua difusão nos Estados Unidos está estreitamente ligada à emigração escocesa. A caça era praticada como desporto, tal como na Europa, por uma minoria ligada à nobreza de sangue ou de dinheiro. Os caçadores americanos mais abonados, para evitar que se caçasse nas suas extensas terras, levaram consigo, desde a Escócia, guardadores de bosques, pois os mais acreditados eram originários daquela terra. Assim, eles encarregaram-se de levar e cuidar dos primeiros labradores, que os auxiliavam na caça e faziam o cobro das peças abatidas pelos “sportman”.

Por que ter um cão guia?

Infelizmente não existem técnicas milagrosas que possam resolver todos os problemas a todas as pessoas cegas. A utilização de um cão-guia é, pois, mais uma das técnicas ao nosso dispor mas infelizmente não dá para a maioria dos casos. Portanto, nem todas as pessoas cegas preenchem os requisitos para utilizar esta técnica. Para se possuir um cão-guia, tem de se ser equilibrado, física e emocionalmente. Tem de se ter boa orientação, mobilidade e equilíbrio. Tem de gostar de animais. Tem de ter uma vida estável, quer sobre o ponto de vista familiar ou profissional. No caso de viver em família, esta deverá aceitar bem o cão dentro de casa e tratá-lo tão bem como o dono. Ele ressentir-se-á extraordinariamente do contrário. Se a pessoa puder preencher todos estes requisitos, não vejo impedimento a que se possa candidatar a ter um cão-guia.

O deficiente visual que pensa em trocar a bengala por um cão-guia tem duas alternativas no Brasil: aguardar pacientemente na fila de espera de uma ONG por tempo indeterminado ou comprar o animal fora do país. O número reduzido de cães-guia no Brasil é um reflexo da dificuldade que existe para conseguir um animal treinado. Para se ter uma idéia, há 1,4 milhão de deficientes visuais no país, segundo o Conselho Brasileiro de Oftalmologia. Entrar na fila do Projeto Cão-Guia da ONG Integra, em Brasília. Uma das maiores vantagens do cão-guia em relação à bengala, segundo o parecer de uma pessoa cega que utiliza, é a possibilidade de desviar de objetos acima do chão. “Com a bengala, você tem domínio de 1,5 metro à frente e não detecta um orelhão ou um galho de árvore. Em troca da proteção, para que trabalhe perfeitamente, ele precisa seguir a rotina rígida, receber alimentos nos horários corretos, além de fazer visitas freqüêntes ao veterinário e, ao menos uma vez por ano, passar por uma reciclagem do treinamento.

Custo do treinamento

Em média, o treinamento demora dois anos e custa o equivalente a R$ 25 mil no Brasil. Os deficientes visuais cadastrados no Projeto Cão-Guia e na Escola de Cães-Guia Helen Keller não pagam pelo animal, mas precisam enfrentar a fila de espera de tempo indeterminado. A coordenadora do Projeto Cão-Guia, Michele Pöttker, afirma que há cerca de 300 deficientes visuais na fila de espera da instituição. A ONG teria capacidade para entregar 25 cachorros por ano, mas, por falta de recursos, em 2009, preparou apenas quatro. No total, em nove anos, o projeto beneficiou 35 pessoas. A Escola de Cães-Guia Hellen Keller, que também é uma instituição filantrópica, espera entregar os primeiros animais treinados a partir de agosto de 2010. Já quem tem dinheiro para adquirir um cão no exterior precisa pagar a viagem e os gastos do período de adaptação de cerca de um mês para integrar animal e dono, além do valor cobrado pelo cão.


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